quinta-feira, novembro 09, 2006

Novo dia na imensidão absoluta do nada

“Tempos difíceis!” gritou o profeta, encostado no muro tempestuoso da tristeza
Ao meu lado, um homem que nunca traiu a honra procura migalhas de dignidade em uma rua suja com mentiras dos seus algozes
Eles jamais podem encará-lo nos olhos, mas isso é necessário quando conseguem dobrá-lo com a humilhação da ignorância?
O quanto resta de nós na exploração do cotidiano?

Dobrei a esquina habitual
Trilhei o caminho diário
E novamente avistei os mesmos olhos esperançosos
Que buscam o caminho da honra e da paz mesmo quando esses privilégios passam a ter preços
E nada lembram o paraíso a cada momento que a lágrima mais fria rememora a dor de anos vividos e vindouros

Olhe mais um trabalhador morrendo na gélida cidade
Um mendigo sentado na calçada imunda balbucia rezas pagãs a cada gole
O quanto eu me pareço com ele? Também quero fugir da realidade?
Mais uma pessoa tropeçou na miséria ao atravessar a rua. Não percebeu

Eu pego o expresso da esperança
Que corta avenidas regidas por concreto e delineadas pelo aço da prosperidade
Mas ele apenas reflete a injustiça e o medo do amanhã, transformando cada canto da cidade em um mosaico de almas cansadas
A cruzada das sombras nunca acaba e continuamos a cair e levantar a todo instante