terça-feira, maio 10, 2005

Pesadelo

No corredor claustrofóbico, as janelas seqüenciais erguiam-se como muros resolutos e inexpugnáveis; as paredes ecoavam o assobio agudo e ininterrupto do vento desgovernado. Arfando, correndo aos trôpegos, as lágrimas escorriam desesperadamente pelo rosto do ‘Senhor X.’. O trajeto que percorria de uma maneira cada vez mais ávida parecia perene. Os muros assumiam gradativamente a feição de paredões sórdidos, como se fosse possível enxergar os mais pérfidos sentimentos escritos neles.
Olhou para trás. De chofre, o ‘Ser’ apareceu do nada: estava parado, com o cenho empedernido, e o seu olhar incisivo era morto. O machado estava na sua mão. Apontou-o para o ‘Senhor X.’ e sorriu. Com o desespero sufocando sua respiração e o pavor dilacerando seu equilíbrio (por não ter ao menos a possibilidade de se esconder em algum lugar), ‘X.’ perseginou-se e correu o mais rápido que conseguia.
O machado saiu da mão do ‘Ser’. De costas, o ‘Senhor X.’ não viu o objeto cortante chegar à altura do seu pescoço. Ao decepar sua cabeça, ele apenas gritou e acordou abruptamente, com náuseas e lágrimas nos olhos.
Sentado na cama, sozinho, com as mãos na cabeça, somente olhou para o escuro sufocante.