quarta-feira, maio 11, 2005

Um pequeno retrato de desespero e solidão

Rascunhos de um sentimento cansado que de tão trivial, paradoxalmente transmutou-se para a mais prolixa emoção. E tudo instigado pela sua própria angústia. Era como se sentia enquanto caminhava. Como tudo podia ser tão diferente do que imaginava? Nada podia fazer para alterar tal contexto.
A tristeza que sentia era imensa e ímpar; pode-se até dizer que era incomensurável. Sabia que precisava transformar seus problemas em soluções para aspirar alguma mudança, mas como fazer isso, perguntava-se excessivamente.
Foi quando encontrou, de repente, a velha angústia. Com uma aparência serena, saudável, o semblante desse sentimento torpe exibia a sórdida alegria de constatar o agouro alheio que fustiga a alma.
Perguntou quando ela o deixaria em paz. Sorrindo, a angústia respondeu que só ficava do lado daqueles que permitiam. Era uma questão de estado de espírito. Até citou o amálgama da alma, e o fato de deixarmos constantemente em evidência apenas a tristeza e ocultarmos na parte mais escura do nosso cerne o que temos de melhor.
Depois disso, a angústia despediu-se e foi embora. Vendo-a cada vez mais distante, se perdendo na linha do horizonte, ficou aliviado. Quanto tempo ficaria sem vê-la? Horas? Ao menos, momentos fugazes de calmaria.
Continuou seu trajeto. Conversou com seus medos, incertezas, indecisões, desesperos e discutiu rispidamente com a sua solidão. De nada adiantou.
Terminou o percurso; tinha chegado a lugar algum. Sentou-se e contemplou a paisagem inanimada, que era o óbvio ululante do reflexo do seu coração.