quarta-feira, março 08, 2006

Reminiscências do abstrato

Em um momento aleatório, sem importância, o pensamento toma forma e percorre os caminhos mais obscuros da mente. Tenta manter-se vivo, tomar forma. A luta abstrata em porões escuros, corredores estreitos que habitam nosso subconsciente e que ignoramos. Ideais que morrem antes de existirem. Ou cuja gênese já é o princípio do fim.

Os olhos abriram de repente. Em um gesto inconsciente, fez um movimento rápido e com o rosto virado para o chão, cuspiu toda a água que estava em sua garganta e que quase o asfixiou. Assim que conseguiu respirar, começou a vomitar e não conseguiu ao menos ficar ajoelhado. Em seguida, uma dor lancinante e aguda atacou a sua cabeça. Tentou se levantar, mas não obteve êxito, enquanto que um pensamento retumbante, sorrateiro, ecoava na sua mente. Entre o céu e o inferno, onde será que você está?
Começou a rastejar e foi apenas nesse momento que percebeu o lodo à sua volta e a tempestade que caía sobre si. Os pingos eram pesados e fustigavam o seu corpo, que tremia de frio e medo. O ambiente era pesado, sufocante. Queria respirar, mas o ar não chegava; os pulmões doíam. Acordado há pouco tempo, perguntava-se o que era tudo isso? Um pesadelo disforme, perturbador, surrealista? Isso não é o inferno, meu caro. Lá o ar pode ser quente e pesado, mas você pelo menos consegue respirar. Seus pulmões podem queimar e o seu nariz arder por toda a eternidade meu chapa. A temperatura pode ser alta ao ponto de você sentir que a sua pele queimará para sempre, mas o ar vem aos pulmões. Não pergunte em que merda você se meteu. Eu garanto que aqui não é o inferno. E vou ser sincero: em alguns aspectos, isso aqui é ainda pior. Agora, é hora de morrer.