sexta-feira, março 11, 2005

O nada era tudo o que tinha (postado originalmente em 15/10/04, às 1:59)

Quanto mais pensava em ocupar o seu tempo, mais a angústia e a impaciência aumentavam. A profusão de sentimentos desordenados, visíveis por suas atitudes e pelo olhar - que buscava aquilo que estava longe, muito longe – acusavam isso e o deixavam desprotegido, por mais que tentasse ocultar. E era impossível esconder tal fato. Se sentia vazio quando ela não estava por perto, suas ações eram metódicas, seu rosto ficava empedernido. O medo de ficar sozinho, de encontrá-la com alguém o consumia diariamente. Tudo a lembrava; era incrível como todas as mulheres carregavam alguma característica dela, até aquelas nuanças praticamente imperceptíveis, que faziam com que ele se encantasse cada vez mais por ela. Eram os gestos simples e verdadeiros que fizeram ele se apaixonar. E como o nosso quotidiano é arraigado à trivialidade fútil, ela não saía um minuto da sua cabeça. Sorvendo cada vez mais a mediocridade dos seus pensamentos, não tinha outra saída a não ser esperar. Pelo o que, nem ele sabia responder. Estava preso no labirinto da vida, que insiste em ser na maioria das vezes a alcoviteira das mais sórdidas tristezas. Que satisfação pérfida é essa que a vida tem de ser o arauto do negrume da alma de todos nós?, refletia ele a todo momento.Uma pergunta que ele não tinha resposta. Lágrimas vieram aos seus olhos. Imprevisíveis, abruptas, insolentes, preteridas. Mas unicamente sinceras. Nada tinha a fazer a não ser esperar. Mas pelo o que?, indagou-se novamente, causando surpresa a si próprio. Como um martelo pesado e descontrolado, seu próprio pensamento grunhiu a resposta de forma arguta e soturnamente lacônica: pelo nada. No entanto, a solução estava na sua frente, tão próxima que os seus devaneios esbarravam nela todo dia. Contudo, faltava o âmago: a aceitação da negação diante dos seus olhos, que insistiam em exasperar a pérfida esperança que alimenta os tolos inertes.O medo tomou conta. A solidão estava próxima demais, sentia a mão da mesma no seu ombro. Sem respostas, começou a caminhar com uma única certeza, que o martirizava gradativamente a todo instante: não sabia para aonde estava indo, mas tinha a plena convicção que quanto mais procurasse se aproximar dela, mais longe ela ficaria. E não havia nada que pudesse fazer para mudar essa realidade, que desde o início sempre foi inextricável.