sexta-feira, outubro 28, 2005

Bardo caído

Não é o inferno
Os olhos mentem muitas vezes
Tudo começa agora
Escutar a história de tempos longínquos é necessário

Órfão das próprias convicções
Sem direção ou pensamentos prontos
Qual o sentimento quando a resposta
É a porta do medo, que é preciso transpor?

A proteção é vazia
O reflexo é turvo
A solidão é duradoura
Quando a incerteza é encontrada nas próprias palavras

Usar o silêncio
Para dizer tudo o que pensa
É enxergar nas sombras
E compreender que a liberdade é a prisão em que concordamos viver

terça-feira, outubro 18, 2005

Ordem

Nas sombras da alma
Com medo de mim mesmo
Aspirei o ar sufocante da realidade
E orgulhoso da minha ruína
Sorri melancolicamente para o impossível

Escutei dias gloriosos
Observei passos firmes em direção à certeza
Notei cicatrizes em meus olhos
Imaginei minha vida como palavras escritas
Em um livro cujas páginas estão sempre em branco

A severidade do isolamento é a fiel aliada
Contra a flamejante necessidade de viver
Como um guardião errante do passado
Percebi o quão longe estou de tudo
E vi que não conseguia enxergar a minha verdade

Com a fronte preocupada
Erguida nos escombros da luz
Mirei contra minha esperança
Mas deixei que eu fosse embora
‘O caminho é a luz’, pensei
E perdi tudo o que não tinha

quinta-feira, outubro 13, 2005

A construção da ordem mediante a ruína do que é correto

Nas sombras do passado
Procurava lembranças nunca vividas
Que o fizessem seguir em frente
Na realidade que busca sempre esconder
O que pode acabar com a melancolia

Mas o que é a tristeza
Quando olhos voltados para o vazio
São reflexos de vozes
Perdidas no limiar da esperança
E da justiça?

Desistir do impossível
Ignorar o óbvio
Tornar-se um boçal
Para quem sabe compreender as diretrizes a que estamos expostos
Deferidas pelos eternos senhores autômatos do poder

quinta-feira, outubro 06, 2005

Caos construtivo

Procurar por respostas
Quando as perguntas não estão claras

Imaginar o futuro
Enquanto o presente é vívido e não se percebe
E o passado se torna a fuga, a reclusa da dúvida e do medo

O inferno nada mais é a desistência daquilo que você acredita
Mas como fazer isso, se a história está apenas no começo?

Viver um dia de cada vez;
eles parecem interligados e perenes
A ruína total é a chave para a purificação e o reinício de tudo?

Tempos modernos aos olhos
Mas coração impregnado de sentimentos existentes
Desde tempos imemoriais

A realidade parece um épico injusto
E a abstração o íntegro caminho a seguir
Fechar os olhos para enxergar o válido
Renegar-se honrosamente
Ignorar a ilusão
Para finalmente reconhecer a si próprio