sábado, novembro 25, 2006

Sol vermelho

O sol vermelho ocupa a fronte da dúvida
A poeira cáustica está onipresente
Os olhos ardem
A garganta queima
É tão difícil caminhar quando não é possível respirar

Quente como o inferno, mas não estou lá ainda
Não sinto a minha alma sofrer a punição por ser inocente
Mas o sol vermelho continua a flamejar
E sozinho no deserto que criei para as minhas sombras, ele continua a sufocar-me

Vivendo no limite do devaneio
O sol vermelho é contundente no céu cor de chumbo
Sozinho na imensidão absoluta do nada
Observei hereges injustiçados desistirem da caminhada sob os acordes dos sinos do inferno

domingo, novembro 19, 2006

O idiota

Um tolo precisa de salvação a cada instante
Caminha nas sombras incertas dos próprios medos
Sempre carrega aquilo que nunca existirá
E vivencia momentos que nunca acontecerão
Do alto da própria tristeza certificou-se como é pequeno quando toma consciência das suas fraquezas

Não precisa despedir-se de ninguém para ir embora, sua presença nunca foi percebida
Sempre está à procura da luz para encontrar o caminho de casa
Mas como pode ter um lar para repousar a alma
Quando se é um nômade da melancolia e solidão?
E os passos para o incerto lembram sempre que nada, nada na vida é como sonhamos

No topo da própria desilusão
Leu as páginas da sua vida até ali e percebeu como estava sem rumo
E essa história seguiria imutável, o livro dos seus dias já estava escrito há muito tempo
Conversar com si próprio é a decisão mais difícil
Não há como se consolar quando a dor faz-se presente sob todas as formas

Um idiota com muito a falar mas que ninguém quer escutar
Aliás, será que ele merece a atenção de alguém?
Será que ele merece, algum dia, ser notado?
Um idiota na vida cuja única certeza conquistada até agora é saber o significado do termo ‘solitário’ na sua plenitude

O idiota segue o seu caminho
Lutando contra tudo, o embate também é introspectivo
Tudo isso para conscientizar-se que talvez o fardo da solidão seja o castigo da sua vida
Perdido nas palavras, ninguém sabe o quanto ele já se sentiu sozinho
E apenas o seu isolamento presenciou quantas lágrimas já derramou até hoje

quinta-feira, novembro 09, 2006

Novo dia na imensidão absoluta do nada

“Tempos difíceis!” gritou o profeta, encostado no muro tempestuoso da tristeza
Ao meu lado, um homem que nunca traiu a honra procura migalhas de dignidade em uma rua suja com mentiras dos seus algozes
Eles jamais podem encará-lo nos olhos, mas isso é necessário quando conseguem dobrá-lo com a humilhação da ignorância?
O quanto resta de nós na exploração do cotidiano?

Dobrei a esquina habitual
Trilhei o caminho diário
E novamente avistei os mesmos olhos esperançosos
Que buscam o caminho da honra e da paz mesmo quando esses privilégios passam a ter preços
E nada lembram o paraíso a cada momento que a lágrima mais fria rememora a dor de anos vividos e vindouros

Olhe mais um trabalhador morrendo na gélida cidade
Um mendigo sentado na calçada imunda balbucia rezas pagãs a cada gole
O quanto eu me pareço com ele? Também quero fugir da realidade?
Mais uma pessoa tropeçou na miséria ao atravessar a rua. Não percebeu

Eu pego o expresso da esperança
Que corta avenidas regidas por concreto e delineadas pelo aço da prosperidade
Mas ele apenas reflete a injustiça e o medo do amanhã, transformando cada canto da cidade em um mosaico de almas cansadas
A cruzada das sombras nunca acaba e continuamos a cair e levantar a todo instante