quinta-feira, junho 30, 2005

Fragmentos de um pensamento

Olhando pela janela
As escolhas são livres
Mas o que é a liberdade
Quando o medo se torna a prisão?

A distância é imensa
Mas parece que tudo está muito próximo
Ah, nada está ao alcance
Tudo é tão óbvio
Apenas continuei a observar o distante

As escolhas não existem
Quando a alma está na escuridão indecifrável
Ah, e as sombras insistem em não desaparecer
Por favor, eu ainda não estou dormindo
Quero beber, sorver mais algumas dúvidas
E depois sonhar com o lugar que nunca encontrarei

A justiça é um pensamento fustigado
É o epílogo da história malfadada que não acaba ao longo dos tempos

quarta-feira, junho 29, 2005

Opressão introspectiva

Estava com o papel e o lápis na mão. Tanto para escrever, muito para contar... Não sabia por onde começar, mas tinha a certeza imbuída no espírito aonde queria que tudo terminasse. Mãos trêmulas, olhos tensos nas linhas em branco. O nada naquela folha clareou taciturnamente sua visão. O que aconteceria depois de escrever as tolas linhas que desejava? A realidade é o contraponto da vida que ignoramos e insistimos em preterir. No seu caso, a mente era o agente regulador dos seus sentimentos e como uma sentinela incansável, estava lá para repetir e outorgá-lo a todo o momento em que insistia na busca pela felicidade ilusória. Não há esperança. Com ódio de si próprio, suspirou de forma lacônica. Acabrunhado, amassou a folha e de forma melancólica, jogou-a no chão. Cabisbaixo, voltou a caminhar para o incerto.

domingo, junho 26, 2005

Guerra

...acordou no campo de batalha. Sangrando e com frio, sentia um torpor angustiante que paradoxalmente lhe trazia serenidade. Ao fundo, escutava os tiros de canhões, as bombas, os gritos de desespero. O cheiro da morte impregnava o ar. A foto da amada estava ao seu lado, suja de terra. Tentou se mexer. Tossiu sangue.
Tinha vinte e um anos. Era filho único. Pensava na sua família e na sua garota. Ambos estavam tão longe. A dor apareceu de repente, quase o deixou inconsciente. A visão ficou turva. A respiração tornou-se difícil. As lágrimas umedeceram os olhos. Escutou o rifle engatilhar. Viu a sombra do seu chacal. Era o delírio de um moribundo ou seu algoz sorria mesmo? Um clarão tomou conta do local fugazmente. De súbito, a dor sumiu...

sexta-feira, junho 24, 2005

Post-Scriptum (o nada)

Céu nebuloso
Campos destruídos
Erguer-se das ruínas
É mais simples
Do que livrar-se da culpa das atitudes que tomamos,
da negação de abandonarmos a covardia egocêntrica

Desorientado, é árduo o caminho
Quando se descobre
Que a verdade é uma grande mentira
A esperança nos olhos
Transforma-se em uma vaga lembrança lívida
Na gênese da alma

Instigado pela penumbra
A busca pelo nada traz somente
A dúvida impregnada no coração
Que atormenta o pensamento
Agora, o que existe não importa

Sentimentos oprimidos por todos os olhos
Morrem sozinhos
O grito de desespero
É apenas um suspiro de lamentação
No vento gélido que corta a vida

terça-feira, junho 21, 2005

História

Tempos gloriosos
Que traziam na palavra e na honra
Os valores máximos da integridade
Épocas rememoradas
Proferidas a brados orgulhosos
Por vozes embargadas
Que sabem toda a história
Mas jamais conheceram alguém que a viveu

Relembrando o fardo dos injustiçados
Avistou os fantasmas heróicos
Caminhando no caos
O orgulho ferido do fracasso
Encontrava a cada dia na vida
A curiosa trilha dos erros que se repetem
Sofria por não saber o que era
Os tempos incertos retratavam a incógnita da incerteza

Vontade nula no coração
A não ser a ânsia de igualar feitos memoráveis
Para reverenciar lápides esquecidas nas sombras do medo
Dias cinzentos
Marcam o compasso da rotina amarga
E homenageando os póstumos
Levantou os olhos para o céu
E viu suas lágrimas na chuva

sábado, junho 18, 2005

(...)...

Acordando
Vazio
Caminhando sem rumo
Solidão
Atravessando a rua
Sozinho
Comprando algo
Solitário
Pegando o trem

Discutindo com alguém
Único
Esperando o abstrato
Introspecção
Pensando no amanhã
Nada
Tristeza, malogro, luz cinza
Abandonado
Pegando o caminho de casa
Ninguém
No quarto, nas sombras
Isolado
Olhando o passado, avistando o futuro
Escuro

quinta-feira, junho 16, 2005

Cemitério dos sonhos

Cores vivas morrem
Quando me aproximo
A felicidade me paralisa
A tristeza me deixa ativo

A profusão da minha melancolia
envolve minhas ações
Subverto a ordem
Destruo tudo o que sonho

As sombras avançam
Tomam os cantos mais longínquos do meu coração
E minha mente cansada
Apenas olha consternada
Para o esboço de vida
Que eu sigo

Tenho armas nas mãos
Elas não machucam ninguém
Somente a mim

Único na solidão
Nada é o que parece
Aliás, a exasperação tem forma de algo?

Arredio em tentar acertar
Sei apenas o caminho do erro
E como seguir soturnamente
Encontrando em cada suspiro ou pensamento da vida
A existência fria e solitária

Não preciso de nada
Chego à melancolia
Com a impossibilidade dos meus sonhos
Que agem sobre a minha alma

E quando olho o meu reflexo
Digo a mim mesmo em um diálogo surrealista coerente:
“- É meu irmão, como as coisas chegaram a esse ponto?
Tudo era para ser tão diferente, mas tão diferente...”

A felicidade é inalcançável
Tão distante quanto às certezas que procuro incessantemente
Se ao menos eu conseguisse seguir a trilha
Do sentimento inanimado
E sair do labirinto lúgubre
Que se tornou minha alma
Na solidão

sábado, junho 11, 2005

A desilusão real e concreta

Gélido
Apesar de sentir o sol mais abrasivo
Sozinho
Mesmo com milhares de pessoas envoltas
Tentou fugir dos olhos tristes que o observavam
Mas se enganou
Os olhares eram para o nada que absorvia a mente de todos

Podia chorar?
Sentir medo?
Ficar fraco?
Claro que sim
Alguém o escutaria?
Se importaria?
Acho que não

A morfologia da dor
Está em todos
Basta que a descubramos
E fazer isso é a pior das nossas ações

Não preciso me erguer
Aquilo que sinto e vejo
Está em todo lugar
Sei como mudar isso
Mas não tenho como fazer

A vida é podre
Não queria enxergar o que já constatei
Sorrisos são meras ilusões
Poucos tem isso
Sonhe com a mão da ajuda
E acorde com o braço sufocando-o

Contaram a história ilusória
E esqueceram de mencionar
O epílogo do inferno

Nascido para perder

O que eu sinto
Eu não vejo
E quem eu quero
Não me vê

A angústia corroí minha sensatez
Essa, por sua vez, ignora há muito tempo o que sinto
Como evitar isso na realidade áspera que me encontro
Dias estranhos e duradouros exasperam ainda mais minha solidão

O princípio do fim
Já terminou
Estou no meio da terra devastada
Sou um cego que enxerga
Apenas o que mais me machuca

quinta-feira, junho 09, 2005

Vazio que apenas mostra a certeza desoladora

Questões preponderantes
Tratadas com desdém
O quão rápido você pode ser
Para disfarçar a dor e exarcebar o sarcasmo
Que o corroí

Dores tomam seu corpo e alma
Parecem cortá-lo impiedosamente
Momentos fortuitos de paz
Apenas aumentam a dor
Quando você olha quem controla as diretrizes

Canalhas incitam os modos
E os meios
Algozes delimitam
O que sentir
E como sentir

O acorde é uníssono
Lancinante
A agonia impregna o ar
Sorrateiramente
É claro que ela está ai

Puxar o ar
Tentar respirar
Apenas piorará
A situação imutável
E a enganosa calmaria continua a dopar nossa visão

sábado, junho 04, 2005

Quando o 'nunca' é absoluto

Perdeu a noção do tempo
Calculava as horas
Pelo sofrimento que sentia
Diante do fardo que carregava

As palavras que tinha para exprimir
Eram oprimidas
Pela realidade
Que o cercava
A solidão latente
Encharcava seu espírito

Nada para exprimir
A não ser tudo aquilo que pensava
A história nunca chegará ao fim
Porque jamais teve um começo

sexta-feira, junho 03, 2005

Cotidiano

Penso naquilo que eu nunca terei
Espero o que nunca vai chegar
Mortifico a ânsia
Que toma a forma de uma fênix imprudente
E ressuscita o que deveria estar esquecido
Há muito tempo

A minha tristeza é um segredo
Oculto minhas lágrimas até da escuridão
Não me importo com mais nada
Entreguei-me à melancolia
Sou refém das minhas idéias vagas

Meus medos são os pensamentos
Que tenho do futuro
Incerto
Agressivo
Desordenado

O pouco que necessito
É muito para mim
Continuo a vaguear
Pelo campo vazio que me tornei

Sou meu próprio inimigo
Minha sinceridade mostra o quanto sou vulnerável
E a saudade dos velhos tempos
Evidencia o quanto o futuro é complexo e amedrontador

quarta-feira, junho 01, 2005

Divagações... sinceras

A noção do tempo
Perde-se na alma taciturna
Que caminha solenemente
E enverga com altivez a tristeza fulgurante
O suspiro amorfo
O olhar morto
Soçobram relutantemente
No afã de velar a solidão constante
O quão é iminente
A realidade que acossa o âmago
Do homem tolo
Que caminha na densa bruma da dor?
Fantasmas perenes que carregará
Até à finitude da chama existencial
Tornarão clarividentes
Suas expiações

A paz nunca esteve tão próxima
Mas o algoz que criou a si
O incita a impelir a gênese
Das vicissitudes idiossincráticas da melancolia
Sua sinceridade galvaniza desejos prosaicamente belos
Mas neles ensejam-se todos os opróbrios
Que embora fugazes
Transmutam-se para o indelével
Assaz ignominioso
Avistara o futuro no horizonte
O solstício da amargura
Evidenciava-se atemporal
Mediante a resistência inútil que se infligia
Na vã esperança
De que a felicidade era uma dádiva inata
Com a qual teria sido abençoado