quarta-feira, março 30, 2005

Nada, nada

A injúria do seu pensamento/Acossava a (in)sensatez do seu coração/Obliterado pela inércia do momento/Chafurdou-se na lamúria das suas atitudes e do seu pesar/E aspirou o ar benevolente da cordial empáfia que tentava expurgar de si próprio.

sexta-feira, março 25, 2005

Reflexo da visão

Bata o martelo
Coloque mais uma estaca
Marque o sinal

Do resultado iminente,
esperado

Mais um olhar morto,
a visão triste
Do meio em que vivemos

O concreto nos coerce
O abstrato não traz respostas
Apenas nos deixa mais atônitos

São tempos de mentiras
Tempos de morte do caráter
Época da nulidade exponencial
E da acepção da soberba,
da auto-indulgência

Permeada pelo malogro perene

Isso tem que acabar

segunda-feira, março 21, 2005

... ... ... ... ... ... ... ... ...

O silêncio é algo que ninguém aproveita. Quando usufruímos dele, não fazemos para nos analisar e sim para esquadrinhar a maledicência dos outros. E o mais grave é que nunca percebemos que somos espelhos uns dos outros e aquilo que almadiçoamos nós também carregamos no nosso cerne, muitas vezes de uma forma assaz nociva.

sábado, março 19, 2005

1+1 = 1

Sentado no banco, o ar quente da noite chegou a seu rosto, despertando-o de um devaneio pungente. O farfalhar das folhas caindo e a temperatura agradável traziam um espírito de serenidade ao local, que praticamente impregnava a todos. Somente aqueles atormentados por algo é que não permitiam que tal tranqüilidade chegasse até suas mentes e corações. E sempre existem alguns, mesmo que todos neguem. Sempre há alguém. Já podia ter ido embora, mas esperava. E não sabia o que fazer para passar o tempo. Surrupiado da realidade, pensando no impossível, alimentando absurdos esperançosos, começou a rabiscar.

"7:58. 7:59. 8:00. O som agudo e prolongado do despertador ecoou pelo quarto que ainda estava envolto pela escuridão, apesar da hora do dia.
Depois de grasnar incessantemente por dois minutos, uma mão pesada literalmente socou o aparelho, que não agüentou e se espatifou no chão depois de mais uma investida, pelo quarto dia seguido, sempre no mesmo horário. Como em um último brado honroso de protesto, para deixar registrado que ele era o menos culpado pelo conjunto da obra, aquilo que outrora fora chamado de despertador tocou languidamente por um minuto. Um toque uníssono, hipnotizante, até parar e o quarto cair em um silêncio ensurdecedor, de doer a cabeça.
Sentado na cama, cabisbaixo e com as mãos na cabeça, o dono do soco olhou de soslaio para o lado que vinha o som da ‘absolvição’. Na realidade, seu movimento foi mecânico, já que ainda estava escuro e mesmo se pudesse enxergar algo, pouca diferença faria; seus sentidos e pensamentos estavam envoltos no contexto angustiante que ele armou a si mesmo e que o estava sufocando. Era tão apreensivo e coercitivo que nem durante o sono ele tinha paz. Suspirou profundamente.
O fez porque a dor latejante na cabeça e os olhos cansados indicavam mais uma noite mau dormida e não era pela falta de tempo, pois desfrutava de oito à dez horas para descansar. O problema era o seu estado de espírito. A questão era um pensamento que não o abandonava nem por um instante sequer. Dormia com essa pergunta na cabeça e já acordava com ela na boca: Quando a verei novamente?
Essa indagação simples e direta que fazia a si toda manhã já acabava com o seu dia. Um turbilhão de emoções o atravessava por completo e inúmeras questões já cortavam o seu pensamento de forma abrupta e desesperada. E se eu não a encontrar hoje? E se eu não conseguir falar com ela? Mais um dia pesado e lento? Mais 24 horas envolto no negrume da minha mente, sabendo que aquilo que me deixará feliz é algo que nunca vai acontecer e enquanto a sua imagem não sai da minha cabeça, ela segue o seu dia normalmente, sem pensar em mim? O que fazer quando a necessidade de conversar com ela e escutar a sua voz é imensa? Quanto mais a vejo, mais preciso ficar ao seu lado. E quanto mais preciso dela, menos eu a encontro. Acordado por apenas cinco minutos, ele queria deitar novamente. Já estava exausto.
Envolto com os seus pensamentos, o corpo executava a ação sistemática e involuntária de se vestir. Estava atrasado para o trabalho. É incrível como o ser humano pode executar e delegar tarefas distintas enquanto que paradoxalmente dirige a atenção a um determinado fato nevrálgico.
Dez minutos depois saiu do quarto e foi embora. A escuridão tomou conta de tudo.

Sorte daqueles cujos sentimentos
Não refletem a todo momento
Aquilo que sofrem


22:32. 22:33. 22:34. Abriu a porta do quarto e o seu rosto não transparecia nenhuma emoção. Se arrastou até a cama e se sentou. Lembrou que caso não programasse a hora para levantar no dia seguinte, iria se atrasar. Não se importou. Sabia que apesar do cansaço, iria dormir pessimamente mais uma vez. Não deu a mínima. Tinha certeza que o hematoma na mão (oriundo da destruição do despertador pela manhã) se transformaria na manhã seguinte em um inchaço extremamente doloroso. Deu de ombros.
Pensou se iria conseguir falar com ela amanhã ou simplesmente vê-la. Lembrou que a possibilidade de isso não acontecer era muito grande. Abaixou a cabeça e fixou o olhar no nada ululante e absoluto. Não tenho ânimo pra nada. Pior do que não ter força para seguir em frente é você utilizar a sua tristeza como energia para ir adiante. Nesse ínterim, lembrou inclusive que mesmo se conseguisse ficar mais próximo dela, isso não seria suficiente.
Resolveu deitar e teve um momento de paz quando lembrou que ao fechar os olhos poderia pensar em tudo aquilo que o feria e angustiava sem esconder nenhum sentimento. Não precisava ser forte no escuro. Para si mesmo poderia revelar mais uma vez os seus medos, desejos, sonhos, enfim, tudo aquilo que fazia com que pensasse ainda mais nela e necessitasse intensamente do seu calor.
Porém, voltou à realidade e lembrou o que o cercava. Inconformado mas extremamente cansado, tentou dormir o sono dos angustiados que há tanto tempo o acompanhava. Ainda com os olhos abertos viu o escuro da solidão o cercar por completo e pensando nela, pegou no péssimo sono que o alimentaria mais uma vez. Envolto em lágrimas, sonhou a noite inteira que ela simplesmente o beijava e abraçava, dissipando magicamente toda a tristeza que carregava consigo. As lágrimas aumentaram. Mais uma vez, a escuridão tomou conta..."

O barulho de uma miríade de vozes conversando simultaneamente o trouxe à realidade. Observou que um grupo de pessoas saía do prédio. Finalmente a viu. Acompanhou cada movimento, sorriso, passo, palavra, como se fosse a última vez que presenciaria tudo isso. Segundos que valem por horas, dias, meses. Continuou até que a desilusão o despertou. Olhou o que tinha escrito. Outro suspiro morto. Leu, sorriu lividamente e rasgou. Levantou-se, contemplou o vazio à sua volta e foi embora, com a certeza insuportável de que a esperaria novamente no dia seguinte.

sexta-feira, março 18, 2005

O caminho para a finitude (Parte III)

Rastejando no lodo
Suas entranhas gritam de pavor
E as mãos tremem diante da morte
Ele percebe a sua presença

A sombra negra o persegue
Ele se afoga mais na lama
O que ele vê na sua frente?
Sangue?
Dor?
Delírio?

Matar, golpear, destruir
Combata fogo com fogo
Morte, destruição, ódio
Não suplique, apenas grite

Ele escuta a lâmina cortar o ar
Não há mais como se mexer
Ele consegue apenas chorar
Persigna-se com palavras desconexas

Mas é tarde
Ele está perto
As lágrimas aumentam
Ele está cada vez mais perto

O caminho para a finitude (Parte II) (Postado originalmente em 01/10/04, às 23:04)

Andando pela noite
Em becos escuros
Procurando olhos
Tomados pelo pavor

Ele está com o machado na mão
Não há saída
Ele vai te achar

Para te golpear e matar
E você não pode correr para nenhum lado

Ele não sente nada
Ele não consegue parar
Ele quer apenas sangue
E sorri quando está com o cutelo na mão

Matar, golpear, destruir
Combata fogo com fogo
Morte, destruição, ódio
Não suplique, apenas grite

O movimento da morte é ininterrupto
E está atrás de você
É o soneto taciturno
O acorde do inevitável

Ele apenas quer ver a lâmina em ação
Na sua cabeça não existe certo ou moral

Não corra
Não chore

Ele fará com que a dor cortante
Chegue até aos seus ossos

A destruição é a sua vida
E o inferno a sua alma

E ele vai te achar
E te matar

PS: quero deixar claro que não estou ficando um maníaco esquizofrênico. Escrevi esse e o outro texto com título homônimo baseado em filmes, livros e músicas com temáticas de terror que respectivamente já assisti, li e escutei. Desequilíbrio sim, loucura não.

O caminho para a finitude (Parte I) (Postado originalmente em 30/09/04, às 21:07)

Os sinos tocam ao fundo
Enquanto a chuva não pára
E de repente tudo fica sombrio

Um som lúgubre ecoa em altos brados,
mostra que temos que nos matar todo dia para sobrevivermos
E que devíamos considerar o pavor mais incisivo como nosso maior aliado

Não obstante, deixa clarividente
Que só podemos nos persignar
Para ficarmos livres do Mal

Matar, golpear, destruir
Combata fogo com fogo
Morte, destruição, ódio
Não suplique, apenas grite

Não importa o que você faça ou relute
O anjo da morte já chegou
E não vai sair mais do nosso lado

Nunca mais

E cada vez mais que ficarmos indiferentes
Ele erguerá a sua aura indestrutível sangüinária

Então veremos o mundo
Escurecer abruptamente perante nossos olhos incrédulos
Na triste visão do arrefecimento da esperança

sexta-feira, março 11, 2005

B.R.A.S.I.L. Ltda (postado originalmente em 01/03/04, às 21:46)

Burocrático

Rispidez

Amargura

Sofismo

Injúria

Leviandade

XV (postado originalmente em 11/12/04, às 13:27)

Quinze anos de uma vida
Por quinze anos jogou sua vida fora, chafurdado na auto-indulgência que o corroía morosamente e que fazia com que negasse tudo o que era.
Quinze meses de um momento
Durante quinze meses buscou resgatar aquilo que tinha perdido, procurando reviver tudo o que pudesse, mesmo sabendo que isso era impossível e um disparate. Não se recupera aquilo que nunca viveu.
Quinze dias de uma preocupação
Por quinze dias, certificou-se que certas coisas são extremamente difíceis de serem mudadas e que é preciso muito mais do que vontade para realizar algo.
Quinze horas de uma expectativa
No decorrer de quinze horas, concluiu inúmeras vezes que a grandiosidade da ação não é o essencial; o cerne da questão é o impacto racional e sentimental que a mesma provoca.
Quinze minutos de um momento inesperado
Em quinze minutos, viu que era possível o mundo acabar e recomeçar uma miríade de vezes; dependia apenas de como o encarava e se sentia.
Quinze segundos de um pensamento
Contudo, em quinze segundos constatou o mais óbvio: na vida, nada acontece como planejado e a única certeza é que a desilusão e a solidão serão majoritariamente a sua maior companheira.

Apenas verdadeiro (postado originalmente em 07/12/04, às 20:58)

Estou aqui novamente, depois de algum tempo sumido. Não por falta de vontade ou inspiração. Na realidade, fui negligente comigo mesmo. Observando velhos problemas, sorvendo novas dúvidas, remoendo novos contratempos e até admirando-os, tentei me ignorar. Talvez porque as coisas estejam mudando, o que é inegável. Mas não podemos fazer nada, já que isso é a vida. Esse é o jogo e penso o seguinte: podemos conviver com as mudanças mas não precisamos absorvê-las. A menos que queiramos. Também acho que busquei me preterir por constatar que certas coisas são imutáveis, mesmo que eu tentasse ignorar isso ao máximo por não querer aceitar a realidade. Mas não tive escolha. Ela estava lá há muito tempo, pulsante, vibrante, na minha cara. Bastava eu abrir os olhos, o que eu fiz. E muitas vezes, isso não é sinônimo de alívio e nem de felicidade.Esse ano foi extremamente cansativo, sob todos os aspectos. Jamais me senti assim. Os olhos estão ardendo e a cabeça dói. Junto com isso, inúmeras dúvidas e nenhuma certeza se aproximam cada vez mais, com uma velocidade incrível. Eu sei, esse texto parece uma merda lamuriosa, mas o que eu posso fazer? É assim que me sinto, há muito tempo. Vou até parar por aqui, já que não sairei disso. Queria passar alguma coisa melhor, mas não consigo. Seria hipocrisia da minha parte. Essas linhas podem não servir para nada, mas pelo menos são sinceras. E já é um ótimo começo quando, pelo menos, somos honestos com os nossos pensamentos e sentimentos.

Alma morta (postado originalmente em 23/10/04, às 2:12)

Caminhando no silêncio
Tentando oprimir o uníssono da angústia
Que insistia em atormentá-lo

Ficou catatônico
Com o que os seus olhos avistaram
A realidade era imutável, já estava onipresente
Até na esperança moribunda que insistia em carregar consigo

Apenas ajoelhou e malogrou o caminho que escolheu

Era inocente
Mas flamejava na fogueira do remorso
Seus sentimentos transformaram-se na sua expiação
E o seu coração, a vítima de todos os malefícios
Que originou a si

Dane-se a porcaria do título (postado originalmente em 13/11/04, às 19:20)

Palavras desconexas escritas ou ditas por nós podem fazer sentido para muitas pessoas e ainda ajudá-las. Nossos problemas podem ser a solução para muitos. Nada, nada para pensar. Sem vontade. Merda, isso é apenas para atualizar. Rima escrota, palavras cáusticas inúteis. Falta (e muito) para mim a paciência oriental que o Márcio conseguiu encontrar, como ele especificou no texto abaixo. Aliás, não sei se um dia eu a terei do meu lado. Sinceramente. Bom, já que é assim, segue aqui um diálogo que eu inventei. Uma porcaria a mais que eu não consigo eliminar da minha cabeça e faz com que eu possa parecer um demente, coisa que eu não sou na totalidade. Bom, mas quem se importa? Acho que eu. Em muitos momentos, de forma demasiadamente preocupante. Em outros, isso se transforma em um pretexto poroso, carcomido, utlilizado somente para ocupar a minha cabeça com algo que faça eu esquecer - mesmo fugazmente -os velhos assuntos que me artomentam sempre e que com uma lealdade indesejável, jamais me abandonam. Ah, viva a lucidez e o desequilíbrio que nos mantem sóbrios no opobrioso cotidiano que nos coerce!

Use o machado meu grande amigo, ó estimado irmão. Use-o agora.
O motivo?
Faça isso, senão farei eu. Te adoro, mas preciso te matar. Não consigo evitar. É uma necessidade. Aliás, quero fazer isso há muito tempo. Por isso, me mate antes.

"Tentei acabar com a angústia, dei um tiro nela. Porém, ela não morreu. Ao contrário, ficou ainda mais viva." (postado em 30/10/04, às 4:17)

Congruente, discerne de todo o óbvio
Incauto, transforma-se em heresia nos dias de hoje
Trivial, transmuda para o prolixo nas nossas fúteis mentes
Não importam os olhos
Não interessa quem vê uma forma ou não

Entrincheirada nos segundos, minutos e horas da realidade
Infiltra-se em nós
Sorrateiramente fica inerente a tudo aquilo que nos compõem
O âmago da nossa existência é descartável
O primordial é como convivemos com nós mesmos

A inexorabilidade da única certeza (postado originalmente em 30/10/04, às 4:10)

- Merda, o que está acontecendo? - Nada, respondeu o simpático senhor de idade. - Eu vim aqui apenas para te buscar.- Você veio me buscar?, retorquiu em um tom de escárnio. - E quem disse que eu vou com você? Eu nem te conheço, velho. Além do mais, porque eu deveria ir? De forma lacônica mas polida, o idoso respondeu naturalmente, como se passasse a informação do endereço de uma rua. - Porque eu sou a Morte e te quero bem.- Morto... Eu estou morto? A pergunta saiu em um fio de voz lívido, embargado pelo medo e o terror puro, daquele que não há modo de esconder ou fingir que não sente. Olhando para baixo, viu no limiar da escada seu corpo estatelado no chão e um círculo de pessoas envolta.
Sem reação, apenas escutava o ancião ao seu lado. - Você vai para um lugar melhor, lá não existe ganância, traição, maldade. Chegou a sua hora, vamos. Você vai ficar longe de todos aqueles que levam o ódio na alma como verdade única e absoluta. Falou então com uma sinceridade mecânica. - Me tiraram a vida. Sabiamente e aparentando a paciência de um avô que conversa com o neto de cinco anos de idade, o idoso retrucou. - A vida, meu caro, nada mais é do que a chegada da morte de forma abrupta ou intermitente. A sua alma nunca esteve tão viva como neste momento. E você continuará a viver. Olhando para trás, não reconhecia mais o próprio corpo. Sentia-se incrivelmente bem, como aquela "coisa" inanimada no chão poderia ser ele? Tudo começou a fazer sentido, não estava mais com medo. Suspirou e com dignidade, começou a trilhar o novo caminho que fora aberto na sua vida.

Vida (postado originalmente em 26/10/04, às 2:04)

A inabilidade de pensar é a arte da ignorância. E apesar de não me considerar um boçal, faz muito tempo que eu não tenho tranqüilidade para organizar os pensamentos. Eu tento mudar o rumo, recomeçar do zero e ter ânimo novo. Mas como fazer isso quando nem eu sei como parar e reiniciar tudo? Parece que estou inserido num contexto em que estou sempre perdido, faltando a todo momento a idéia e o motivo para encarar a situação sob uma nova perspectiva.Separar meus anseios e desejos da realidade é extremamente complicado. Eles me deixam extremamente triste porque representam, neste momento, muito daquilo que eu não terei. Paradoxalmente, são essas aspirações "mortas" que fazem com que eu siga em frente; sem elas seria muito complicado enfrentar o cotidiano.Eu acordo e já desejo que o dia acabe logo. É algo bem complexo, pois aquilo que faz com que eu siga em frente é o que mais me deixa angustiado. E se eu tentar ignorar o que sinto e penso, não vejo saída. Certa vezes, parece que mato tudo aquilo que desejo para continuar a viver. E isso é horrível, pois uma pessoa que ignora aquilo que sente não é nada nesse mundo. E o meio em que vivemos há muito tempo é nefasto; ele virou um ladrão da benevolência das pessoas.Em uma sociedade que incita cada vez mais o individualismo, será cada vez mais constante observamos a tristeza e a decepção de todos, já que ninguém gosta de ficar só. Mas não somos nós mesmos a força motriz dessa sociedade egocêntrica? Sempre dizemos que desejamos alguém ao nosso lado, mas o que fazemos? Olhamos cada vez mais para nós mesmos e não escutamos quem está próximo de nós. E tudo favorece esse sentimento unilateral. Aquilo que lemos, assistimos, ouvimos... Criamos à nossa volta uma espécie de beligerância emotiva. Quanto mais desejamos o significado máximo da palavra 'humanidade' e procuramos companhia, mais ficamos distantes uns dos outros. Afastamos quem realmente nos ama e deixamos do nosso lado aqueles que querem apenas o nosso mal. Não pelo fato de sermos ignorantes. O sistema é que propicia isso a nós. Uma sociedade atrasada não é aquela que possui um sistema político-econômico defasado e tecnologia anacrônica, mas sim aquela que perde a capacidade de se importar com o ser humano. E nesse âmbito, estamos caminhando para a barbárie plena. Às vezes, abrir os olhos é doloroso demais. É muito tentador mantê-los fechados e interpretar mal tudo o que se vê. O mundo é muito complicado. Mas a solução para resolvê-lo é simples demais.

Ser rebelde hoje em dia é viver honradamente.
Lou Reed

Continuava a sofrer. Mas fingia que estava tudo bem (postado originalmente em 17/10/04, às 2:23)

Prisioneiros
Do próprio pensamento

Sustentados pela inoperante bondade
Que não os deixam ficar em pé

E que os condenam
A morrerem jovens de coração e alma

Tire tudo e jogue fora
Apenas o que te importa

Guie-se pela luz
E talvez, talvez, consiga ir embora

O seu lugar predileto o espera
Lá, tudo era fácil e simples

Seus medos podiam caminhar ao seu lado
Sem preocupações

Existia o sol, sorrisos
Tudo era efusivamente calmo e bom

Nada tinha o aspecto mórbido
E parecia podre

Mas no lugar que está atualmente
Tudo é incrivelmente apaziguador e distante

O que faz com que você enxergue a verdade
E veja o quanto o seu interior é frágil e medíocre

E você pode gritar, gritar e gritar
Que ninguém se importará

Porque muitas caveiras já existem
E histórias como a sua contam em profusão

Dessa forma, você continuará sozinho
E com o coração aberto

Apenas querendo ir para casa
Mas cada vez mais sendo ferido

Ficando cada vez mais fraco
No canto gelado e ermo

Onde o mais comum
É o silêncio

Risadas sarcásticas
Torcem pela sua derrocada

Contudo, sempre dizem o inverso
E te abraçam

E sofrendo cada vez mais,
Você apenas quer ir para casa

O nada era tudo o que tinha (postado originalmente em 15/10/04, às 1:59)

Quanto mais pensava em ocupar o seu tempo, mais a angústia e a impaciência aumentavam. A profusão de sentimentos desordenados, visíveis por suas atitudes e pelo olhar - que buscava aquilo que estava longe, muito longe – acusavam isso e o deixavam desprotegido, por mais que tentasse ocultar. E era impossível esconder tal fato. Se sentia vazio quando ela não estava por perto, suas ações eram metódicas, seu rosto ficava empedernido. O medo de ficar sozinho, de encontrá-la com alguém o consumia diariamente. Tudo a lembrava; era incrível como todas as mulheres carregavam alguma característica dela, até aquelas nuanças praticamente imperceptíveis, que faziam com que ele se encantasse cada vez mais por ela. Eram os gestos simples e verdadeiros que fizeram ele se apaixonar. E como o nosso quotidiano é arraigado à trivialidade fútil, ela não saía um minuto da sua cabeça. Sorvendo cada vez mais a mediocridade dos seus pensamentos, não tinha outra saída a não ser esperar. Pelo o que, nem ele sabia responder. Estava preso no labirinto da vida, que insiste em ser na maioria das vezes a alcoviteira das mais sórdidas tristezas. Que satisfação pérfida é essa que a vida tem de ser o arauto do negrume da alma de todos nós?, refletia ele a todo momento.Uma pergunta que ele não tinha resposta. Lágrimas vieram aos seus olhos. Imprevisíveis, abruptas, insolentes, preteridas. Mas unicamente sinceras. Nada tinha a fazer a não ser esperar. Mas pelo o que?, indagou-se novamente, causando surpresa a si próprio. Como um martelo pesado e descontrolado, seu próprio pensamento grunhiu a resposta de forma arguta e soturnamente lacônica: pelo nada. No entanto, a solução estava na sua frente, tão próxima que os seus devaneios esbarravam nela todo dia. Contudo, faltava o âmago: a aceitação da negação diante dos seus olhos, que insistiam em exasperar a pérfida esperança que alimenta os tolos inertes.O medo tomou conta. A solidão estava próxima demais, sentia a mão da mesma no seu ombro. Sem respostas, começou a caminhar com uma única certeza, que o martirizava gradativamente a todo instante: não sabia para aonde estava indo, mas tinha a plena convicção que quanto mais procurasse se aproximar dela, mais longe ela ficaria. E não havia nada que pudesse fazer para mudar essa realidade, que desde o início sempre foi inextricável.

Salve Lisa, um grande ser! (postado originalmente em 06/10/04, às 21:14)

Hoje não vou escrever sobre minhas angústias ou sentimentos. Na realidade, não estou com tempo nem inspiração para isso. Porém, este registro eu não poderia deixar de fazer. É algo que será insignificante para muitos, mas que para mim é de suma importância. Exatamente hoje faz um mês que a minha cachorra, a Lisa, morreu. Apenas quem tem um animal desse em casa e gosta realmente sabe como isso é difícil e vai entender o meu registro. Faz um mês que foi embora a minha companheira, que me acompanhou no meu crescimento, dos 8 anos de idade até aos 21 anos; que ficou ao meu lado quando eu estava triste; que não saia de perto de mim quando eu ficava sozinho em casa; que me acordou inúmeras vezes e que me deixou inúmeras lembranças que de tão tolas, são as melhores que eu tenho ao me lembrar dela. Na realidade são essas memórias, simples e marcantes, que nos tornam pessoas melhores. Faz um mês que eu levei a minha companheira pra ser sacrificada e faz um mês que eu percebi o quanto gostava dela. Parece que isso já faz um ano...
A minha cachorra, que daria a vida por mim. E que me faz muita falta. Muitos podem achar isso ridículo, mas pra ser sincero estou me lixando. E destaco mais uma vez: VIVA LISA, UMA GRANDE CACHORRA, UM GRANDE SER!

Texto (postado originalmente em 03/10/04, às 19:19)

Jogado no chão, caminhava desleixadamente pela calçada imunda. Amassado (com uma parte rasgada), manchado, letras tremidas e nervosas, seguia o norte da imprecisão. Contendo sentimentos únicos, escritos pela ânsia da aceitação, pelo acaso ou ação premeditada tomou um destino completamente diferente do imaginado. Em vez das mãos delicadas que deveriam segurá-lo, o nada carregava-o para o infinito. Ora a ventania aumentava, ora diminuía. No papel, a vida tentando ganhar cor. No vento, o rumo impreciso da solidão. Nas nossas vidas, uma miríade de textos escritos com destino semelhante.

quinta-feira, março 10, 2005

Palavras, apenas palavras (postado originalmente em 01/10/04, às 23:09)

Caminhando à procura das respostas
Encontrou somente aquilo que já sabia

Pensou então que era melhor
Que nada fizesse sentido

Foi nesse momento, porém, que tudo se encaixou (im)perfeitamente
E encontrou a estrada da hipocrisia latente, concernente a todos nós
Em alguns laivos ou momentos duradouros das nossas vidas

Mas ao invés de viver com os olhos abertos na mentira,
Preferiu fechá-los e seguir pela trilha da verdade

Já que por mais que errasse ou sofresse
Tudo seria resultado do que o seu coração sentia

E isso o tornaria digno,
Pois o diferenciaria do mundo triste em que vivemos

Dando a ele por apenas um ínfimo instante
A alegria e paz que tanto procura

Lodo (postado originalmente em 30/09/04, às 21:05)

Não penso mais assim, para o meu próprio bem.

Odeie quem te faz mal, porque nessa merda de vida a desilusão é o âmago de tudo. As histórias que escutamos, que desejamos para nós, que achamos que um dia teremos, pode esquecer. Poucos conseguirão isso. Não falo profissionalmente, mas sim no sentimento. Eu sei, não adianta nada você ter a cabeça mais onisciente do mundo e um coração vazio. Contudo, temos que matar um leão por dia não para viver, mas sim para sobreviver. Isso ninguém contou para nós. Dessa forma, relegue o que sente e acione a raiva. O inimigo não é concreto, está em toda a parte. Odeie quem não quer a paz, odeie quem te faz mal diretamente e indiretamente, odeie tudo que o deixa inconformado. Não existe outra saída, porque quanto mais você estende o braço procurando uma mão, mais se afastam de você. Bata antes, porque senão você tomará a porrada e não conseguirá se levantar mais. Simplesmente odeie e deixe o seu coração sem nenhum espaço para aquilo que o faz sofrer. Acolha o ódio. Querendo ou não, ele sempre estará lá, será sempre o seu companheiro. Ódio.

Carpe diem? (postado originalmente em 28/09/04, às 18:26)

Eu vejo a alegria na minha frente
Mas não enxergo nada além do escárnio
Que tenho com a minha própria alma
E que me consome todo dia

Eu tento não pensar no amanhã
Porque eu sei que ao confrontá-lo
Eu me certificarei de como ele será negro
Muito mais do que imagino

Eu tento me organizar
Colocar os pensamentos em ordem
Semelhantes à uma lógica espartana

Mas algumas coisas são impossíveis
Certos sentimentos
Fazem com que você
Perca o rumo
E consiga enxergar apenas a estrada da desilusão
Que você segue mesmo sabendo qual será o desfecho

Não tenho nada
Absolutamente nada
Isso é uma nódoa indelével
Que nunca me abandonará

E nada me faz pensar
Que isso vai mudar

O vento é gelado
Os olhos estão ardendo há muito tempo
A tristeza parece inexpugnável e perene

E a tempestade desumana da vida não cessa uma única vez

Não existe título, somente o vazio. Com isso, já existe algo (postado originalmente em 27/09/04, às 7:16)

Sentado em frente ao computador, a cabeça estava longe e o corpo exausto. No meio do nada absoluto - onde tudo se encontrava - tentava achar o limiar da sanidade para fazer algo, pelo menos por um furtivo minuto, que desse algum sentido para o dia que já estava perdido. Mas embevecido pelo torpor do dia-a-dia e pela lamúria do seu pensamento, deixou apenas uma fresta aberta entre seu mundo e a realidade. Mas mesmo assim achou que isso era demais. Era muita loucura para apenas uma cabeça. E pra variar, para aumentar ainda mais a confusão, misturou as insanidades do seu mundo com o que vivia. Foi aí que não entendeu mais nada, já que tudo passou a fazer sentido: estava sentado em frente ao computador, com a cabeça longe e o corpo exausto.

The Lunatic
Is on the grass.
Pink Floyd

Não há esperança (postado originalmente em 25/09/04, às 13:49).

Na parte da desesperança, felizmente não penso mais dessa forma. De resto, vale tudo.

Não há esperança. Isso eu asseguro prontamente quando olho para mim. Muitos podem considerar essa afirmação um exagero, mas é exatamente assim que eu me sinto. Já não lembro mais a última vez que me senti em paz. Os dias são difíceis, sinto que fico cada vez mais na escuridão. Minha cabeça dói. Meus olhos ardem e ficam pesados constantemente. Durmo mau quase sempre. Tenho um sono agitado; se não acordo várias vezes durante a noite, a minha cabeça e os meus pensamentos fazem questão de acabar comigo. Às vezes tenho sonhos que de tão agradáveis apenas pioram a situação quando acordo, já que eu tenho certeza que eles jamais se tornarão realidade. Tudo aquilo que desejo desmorona como se fosse sustentado por alicerces de areia em meio a uma tempestade, tamanha a facilidade que acabam e somem fugazmente. Eles refletem tudo o que eu sinto durante o dia: inúmeros sentimentos cuja força motriz é a desesperança total. É uma espécie de espelho desfocado e opaco, que mistura minhas ânsias, desejos e aflições. Gostaria de ajudar aqueles que amo de várias maneiras, mas como fazer isso se eu também preciso de ajuda? Levanto exausto todos os dias, fisicamente, psicologicamente e sentimentalmente. Há quanto tempo apenas não fecho os olhos e simplesmente sorrio, apenas por sorrir. Tento lembrar coisas, figuras, qualquer imagem ou contexto que me transporte à época em que era feliz e não me pegava chorando durante a madrugada, enquanto dirigia ou simplesmente sentado na sala da minha casa. E tudo sempre sozinho. Não existe algo pior do que você falar que está bem quando na realidade está péssimo. E eu já perdi a conta de quantas vezes já fiz isso. Vivemos em uma sociedade de consumo. Incitam você a materializar suas alegrias e sentimentos em produtos para não pensar. Sua felicidade é medida pela merda do código de barras. Lá está o preço da sua felicidade. Lançam produtos escrotos, porcarias tecnológicas, comidas práticas que só faltam chegar digeridas para irem direto ao seu estômago, tudo para evitar a demora. É a praticidade a serviço da boçalidade. Querem que você seja sucinto e superficial, usar a cabeça pode causar problemas. Seja arguto para discernir apenas a quantia que retirará do seu bolso. Consuma e não pense nada mais além disso. Se entupa de produtos das multinacionais que sufocam cada vez mais o nosso país e que acabam com o mundo nessa maravilhosa globalização tecnocrata de merda, que engorda cada vez mais os porcos capitalistas de sempre e apenas troca o contexto de miséria dos países do Terceiro Mundo, já que passamos a fazer parte da bosta da "integração mercadológica global". Ridículo. Incitam o individualismo. Eu, eu, eu. Pense em você e não no outro, queira sempre a porra do melhor carro, a merda da residência mais cara e luxuosa, a bosta do computador de última geração. Busque isso, mesmo que precise pisar nos outros. Aliás, nos incitam a alcançar tudo isso fazendo sempre o mal. Mecanize as relações humanas. Veja cada menos as pessoas e se apegue aos seus bens. Eu posso negar e você também, mas quando nós passamos pela rua e vemos um mendigo na rua e não nos importamos, isso é o reflexo do meio em que vivemos, por mais que tentemos ficar longe desse sistema que paradoxalmente está intrínseco a nós. E depois, quando percebo que eu fiz isso, como me sinto um pária. Há muito tempo eu não estou bem. Eu não estou bem. Posso falar sem problemas, o quanto tempo quiser, sobre qualquer assunto que envolva os piores sentimentos humanos: ganância, morte, destruição, indiferença... Mas quando é para dizer alguma palavra de afeto ou sentimento, como é difícil expressá-los. Até que ponto você agüenta a tristeza? Quanto suporta uma decepção? Consegue ser sempre indiferente à tanta podridão e canalhice à sua volta? O sarcasmo é válido, mas não 24 horas por dia. Estou cansado de ser sarcástico. Estou cansado de não poder me sentir ao menos um derrotado porque não me dão a oportunidade de tentar. Estou cansado dos meus olhos nunca enxergarem aquilo que procuro e desejo. Estou cansado de esconder minhas dores e não conseguir falar sobre elas. E acima de tudo, estou cansado de sentir. Estou cansado, muito cansado. E não sei quando isso vai mudar. Aliás, eu não sei de droga nenhuma.

Elucidações de uma mente errante contra o muro apócrifo (postado originalmente em 23/09/04, às 20:50)

Discrepâncias dissonantes
Intrínsecas ao contexto em que vivo
Fazem com que eu não entenda mais nada
E apenas lamente a transposição
Dos meus erros e dúvidas
Perante os meus medos e aspirações
Que não consigo subjugar
E que são muito difíceis de esconder

O maior esconderijo é a grande ilusão que temos da nossa vida e daquilo que sabemos e sentimos.

"Mas eu não quero me encontrar com gente louca", observou Alice.
"Você não pode evitar isso", replicou o gato.
"Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca."
"Como sabe que eu sou louca?", indagou Alice.
"Deve ser", disse o gato, "ou não teria vindo aqui."
Lewis Carol
Alice no País das Maravilhas

quarta-feira, março 09, 2005

Nada além da sinceridade (postado originalmente em 21/09/04, às 14:35)

Na conjuração podre da vida
Que mais preza o loquaz acéfalo
Do que o sábio taciturno
E que ignora a estirpe do discernimento

Cada vez mais
Marionetes sem rostos
Delimitam as metas
E erram os objetivos
Que sempre são digeridos e aquiescidos por todos

Cáusticos discursos tentam nos enfraquecer
Nas entrelinhas do cotidiano

E é por isso que

Ignorante nesse mundo
Não é aquele que não enxerga
Mas sim quem vê tudo claramente
E tenta fechar os olhos de novo