segunda-feira, maio 30, 2005

Tristeza, o limiar da angústia

Tempos estranhos
Dias nulos
Horas perdidas
Como não se arrepender?

Como entender o que se enxerga?
Como seguir em paz quando os próprios olhos são arautos da melancolia?
A penumbra é confortável
O vazio parece extremamente coerente

Como situar-se no mundo
E encarar tudo de frente,
principalmente aquilo que mais machuca?
A covardia é a abstração vil mais constante

Quantos pensamentos, ações, atitudes,
ficam apenas na teoria?
Questões em demasia
Respostas distantes
Há quanto tempo a mente está obnubilada?

sábado, maio 28, 2005

Melancolia

Quando você começa a pensar quem você é realmente ou como fazer para descobrir isso e olha à sua volta, as coisas ficam um tanto complexas. Nada de discursos revolucionários, eloqüências esquerdistas ou referências niilistas. É uma questão de apenas abrir os olhos e enxergar que nos dias de hoje, a honestidade e a ética talvez sejam os princípios mais subversivos que alguém pode adotar. Você tenta construir uma vida inteira embasada no caráter. Tudo para quando chegar à hora de passar sua experiência para um filho ou qualquer outra pessoa que dependa das suas palavras para construir a própria identidade, você tenha o que falar por ter feito aquilo que levanta como correto.E aqueles que levam uma vida baseada em princípios são os que mais enfrentam dificuldades e sofrem com as opções e caminhos que seguiram. A essência humana é extremamente complexa e egoísta. A história da humanidade mostra como somos tacanhos e que na primeira oportunidade, fazemos de tudo para alavancar nosso bem estar social, relegando todos os valores coletivos para a última gaveta da nossa mente. Assassinamos o bom senso no primeiro momento em que a conveniência aparece na nossa frente.
Por todo lado, a sociedade te instiga a ser um calhorda de marca maior. Os discursos hipócritas de exemplos e símbolos altruístas continuam a fulminar nossos olhos. Mas a ação diária, a prática, mostra como podemos seguir por uma trilha ignóbil, desprovida de qualquer consciência. E o pior é que as desculpas já estão prontas para justificarmos os erros; o ciclo vicioso já deixa a estrutura da ignorância a nosso serviço. As mazelas estão em todos os lugares e se eu ficasse escrevendo aqui sobre cada uma, isso não iria acabar nunca. Aliás, eu não teria condições e nem propriedade para agir dessa maneira. Até porque eu não sou ninguém, apenas enxergo que cada vez mais é difícil viver. Porque eu sei o não quero ser e cada vez mais as opções existentes são minuciosamente as que eu tenho ojeriza de seguir. Não vou me tornar o que eu odeio. Prefiro ser ‘um nada'.

segunda-feira, maio 23, 2005

Variações de um pensamento

Na fronteira
Encontrou-se com o carrasco
Ele disse: "- Para a morte é um pulo meu irmão,
então não se questione tanto, pois você jamais está sozinho."

Ruínas de dias gloriosos
Arquétipos de sonhos anacrônicos
Estigmatizam-se injustamente no discernimento coletivo
Como artífices da incompreensão que temos da nossa alma

domingo, maio 22, 2005

Interligações variáveis que resultam em algo único

“Claro”, afirmou entusiasmado
“Eu vi a luz
Ela é tão vívida e flamejante
Mas não consigo encará-la”

Aforismos são instigados
Porém não passam de eloqüências disformes
Das cinzas de uma alma perdida
Como julgar algo
Quando a pergunta passa por você?

A incipiência do desespero é visível
Ser o artífice de estruturas cáusticas
É mais trivial
Do que expurgar tais sofismos que nos deixam opobriosos ao extremo

A visão mais cega
Pode elucidar
O discernimento mais fugaz
E não obstante, intensamente perene

Fogueiras lamuriosas
São fomentadas em todos os âmbitos
Precações soturnas
Estão ávidas pela sanha da discórdia

Com a razão obliterada
Enxergava aquilo que verdadeiramente importa
Contudo, a constatação do óbvio
É a chave para à auto-indagação

quinta-feira, maio 19, 2005

O medo

Certa vez, foi jantar em um restaurante. Estava distraído, conversando, quando viu um senhor de idade entrar. Estava bem-vestido, tinha um ar altivo, mas aparentava fragilidade. Parecia que a brisa mais amena poderia derrubá-lo. Observou também que o idoso sentou-se em uma mesa que ficava ao fundo do restaurante, sozinho. Não deu importância ao que viu e continuou conversando.
Porém, olhava para a mesa dele algumas vezes e o velho homem continuava só. Ele fez o pedido, jantou e foi embora. Tinha cerca de dez anos e estava com os seus pais quando viu tudo isso. Freqüentemente a imagem daquele senhor vem à sua cabeça. “Pode ser que apenas naquela noite o velho estivesse sozinho”, pensava inúmeras vezes. Contudo, tinha muito medo que isso acontecesse consigo, de ficar como aquele idoso. Aquela imagem jamais saiu da sua cabeça. E ao contar a história, sempre enfatizava que a palavra ‘solidão’ podia ser sintetizada naquele senhor que viu quando ainda era criança.

segunda-feira, maio 16, 2005

Mais uma

Antes que conseguisse falar algo, pensou. E muito. Quem daria ouvidos? Aliás, merecia a atenção de alguém para proferir algumas palavras? Tinha feito algo de valor para ter esse merecimento? Quem poderia ajudar com o que tinha para dizer?
Achava que suas palavras eram sábias, mas quem além dele tinha essa opinião? Não passava de um completo idiota, que não sabia porcaria nenhuma e cuja 'sabedoria' eram citações que beiravam ao ridículo.
Observando bem - coisa que não fazia há muito tempo - constatou que ninguém estava ao seu lado para escutá-lo (realidade e merecimento misturavam-se nessa justiça poética destinada aos tolos fúteis). E para não açoitar nem o silêncio com palavras inúteis e pensamentos cretinos, resguardou o seu lixo abstrato para si e pôs se a caminhar novamente na trilha dos ignorantes, que sempre seguiu e nunca abandonará.

sábado, maio 14, 2005

Pode ser, talvez, com certeza

Pode ser
que eu não seja tão inteligente
que eu fique sozinho
que eu seja um errante incondicional
que eu seja um péssimo exemplo, para nunca ser seguido

Talvez
eu não seja tão bom
eu nunca encontre a felicidade
eu não tenha nenhum valor como pessoa
eu seja um merda

Com certeza
estou perdido
estou me sentindo solitário
estou triste
estou com medo

sexta-feira, maio 13, 2005

Nada importa?

Ações tacanhas
Emanam por todos os lados
Auspiciadas por olhares pérfidos
Que fuzilam aquilo que é benevolente

A visão arrefecida
Constata o monólogo
Da reação
Que ninguém toma conhecimento

Aflições exacerbam
Aquilo que deveria ficar velado
A fragilidade pungente
É a matéria-prima para a injustiça institucionalizada

Como encontrar alguém para escutar
Quando todos só querem falar?

quarta-feira, maio 11, 2005

Um pequeno retrato de desespero e solidão

Rascunhos de um sentimento cansado que de tão trivial, paradoxalmente transmutou-se para a mais prolixa emoção. E tudo instigado pela sua própria angústia. Era como se sentia enquanto caminhava. Como tudo podia ser tão diferente do que imaginava? Nada podia fazer para alterar tal contexto.
A tristeza que sentia era imensa e ímpar; pode-se até dizer que era incomensurável. Sabia que precisava transformar seus problemas em soluções para aspirar alguma mudança, mas como fazer isso, perguntava-se excessivamente.
Foi quando encontrou, de repente, a velha angústia. Com uma aparência serena, saudável, o semblante desse sentimento torpe exibia a sórdida alegria de constatar o agouro alheio que fustiga a alma.
Perguntou quando ela o deixaria em paz. Sorrindo, a angústia respondeu que só ficava do lado daqueles que permitiam. Era uma questão de estado de espírito. Até citou o amálgama da alma, e o fato de deixarmos constantemente em evidência apenas a tristeza e ocultarmos na parte mais escura do nosso cerne o que temos de melhor.
Depois disso, a angústia despediu-se e foi embora. Vendo-a cada vez mais distante, se perdendo na linha do horizonte, ficou aliviado. Quanto tempo ficaria sem vê-la? Horas? Ao menos, momentos fugazes de calmaria.
Continuou seu trajeto. Conversou com seus medos, incertezas, indecisões, desesperos e discutiu rispidamente com a sua solidão. De nada adiantou.
Terminou o percurso; tinha chegado a lugar algum. Sentou-se e contemplou a paisagem inanimada, que era o óbvio ululante do reflexo do seu coração.

terça-feira, maio 10, 2005

Pesadelo

No corredor claustrofóbico, as janelas seqüenciais erguiam-se como muros resolutos e inexpugnáveis; as paredes ecoavam o assobio agudo e ininterrupto do vento desgovernado. Arfando, correndo aos trôpegos, as lágrimas escorriam desesperadamente pelo rosto do ‘Senhor X.’. O trajeto que percorria de uma maneira cada vez mais ávida parecia perene. Os muros assumiam gradativamente a feição de paredões sórdidos, como se fosse possível enxergar os mais pérfidos sentimentos escritos neles.
Olhou para trás. De chofre, o ‘Ser’ apareceu do nada: estava parado, com o cenho empedernido, e o seu olhar incisivo era morto. O machado estava na sua mão. Apontou-o para o ‘Senhor X.’ e sorriu. Com o desespero sufocando sua respiração e o pavor dilacerando seu equilíbrio (por não ter ao menos a possibilidade de se esconder em algum lugar), ‘X.’ perseginou-se e correu o mais rápido que conseguia.
O machado saiu da mão do ‘Ser’. De costas, o ‘Senhor X.’ não viu o objeto cortante chegar à altura do seu pescoço. Ao decepar sua cabeça, ele apenas gritou e acordou abruptamente, com náuseas e lágrimas nos olhos.
Sentado na cama, sozinho, com as mãos na cabeça, somente olhou para o escuro sufocante.

sexta-feira, maio 06, 2005

Limites incertos

Quando o sofrimento acaba
Qual é o limiar da dor contumaz?
Ambos são iguais?
Quais são as vicissitudes?

Quero apenas paz
Nada de esperanças
Ou ilusões falsamente profícuas
Espero enxergar tudo e apenas viver

Lá se vai mais um dia incompleto
Sempre existe a falta de algo
No mundo real
Quantos momentos são fortuitos?

Há quanto tempo
O dia e a noite
Já não fazem diferença?

terça-feira, maio 03, 2005

Quase um sentimento

Dias cinzas turvam os olhos
A névoa está presente em algum local
Não tente encontrar uma lógica
Para tudo o que acontece

A realidade está perto
Os sonhos são exasperações latentes exauridas
Lágrimas são mais constantes
Do que sorrisos

O frio é lívido e concreto
E sempre acompanha os momentos mais efêmeros
Da longevidade da dor desesperada
É o arauto da melancolia

Não posso ignorar o que penso
Muito menos o que sinto
Desisto de tentar
Renegar a si próprio é preterir a verdade

O silêncio grita o que quero dizer
A escuridão ilumina o meu caminho
A solidão é minha companheira
A dor alivia os meus sentimentos

Olho em volta
Não há ninguém ao meu lado
A dor é um conceito criado
Para delimitarmos a incompreensão emotiva